quarta-feira, 25 de março de 2009

LUIZ EDGARD CARTAXO DE ARRUDA JR. E O CASO DA LIBERTAÇÃO DOS ESCRAVOS NO CEARÁ


Eis artigo do memorailista Luiz Edgard Cartaxo de Arruda Jr. scom o tema "Liberdade à margem na Terra da Luz". Cartaxo aborda a libertação dos escravos no Ceará, dentro do seu estilo metafórico de ser. Confira:

Apesar da existência recente do enorme Centro Cultural Dragão do Mar de Arte e Cultura, o herói Chico da Matilde continua desconhecido e ainda clandestino na historia “A imensa luz acesa no Norte há de destruir as trevas do Sul...Não há quem possa impedir a marcha dessa claridade”, palavras do abolicionista Joaquim Nabuco. E digo mais esse “norte” ai é Fortaleza e essa “luz” é a jangada libertadora de Francisco José do Nascimento o Chico da Matilde, declarando que nesses verdes mares bravios não haverá mais grilhões. È a proclamação da greve vitoriosa pela liberdade do homem no porto de Fortaleza. Uma página de ouro da história dos povos da África, de Fortaleza e do Brasil. Atitude reverenciada 16 anos depois por Victor Hugo autor do clássico” Os Miseráveis”, registrada na primeira Conferencia Antiescravagista mundial realizado em Paris em 1900.

A Terra da Luz é Fortaleza e Fortaleza ainda não é o Brasil da liberdade. Mas foi aqui o principio do fim do Brasil da escravidão a 25 de março de 1884 quatro anos antes da abolição da escravatura no país. Fortaleza é o primeiro porto abaixo do Equador livre de escravos no Novo Mundo. Há muito tempo que não se faz referencia devida a esse importante fato histórico. O ultimo foi nos anos 40 o Parque da Liberdade que virou Cidade da Criança e ficou por isso mesmo. E digo mais, não são poucos os negros que desprezam esse fato histórico. Para eles só existe Zumbi e o “resto” atrapalha. Fazem parte daquela esquerdinha debiloide, estreita e que apesar disso é imensa. Querem no mínimo um barril de sangue e um tonel de chumbo para começar a fazer história. E como a nossa história da liberdade negra foi feita por mulheres, aí então é muito mais difícil para estar nas paginas da história deles. E quando descobrirem que a mãe do marechal Humberto de Alencar Castelo Branco era líder de uma panela (aparelho revolucionário clandestino feito por mulheres para libertar os negros) aí é que não entra de jeito nenhum. E afinal pensam eles enquanto o rei Zumbi se negou a receber a alforria e a doação das terras da Serra da Barriga do Reino de Portugal que elê conquistara.

Chico da Matilde ao contrario recebeu o convite e levou sua jangada A Libertadora, o símbolo do porto livre de Fortaleza, para o Imperador do Brasil, Dom. Pedro II, e heresia ser benta pelo cardeal da Coroa e, de quebra, ainda por cima ganhou o titulo de Dragão do Mar antes da Revolta da Chibata dá-lo ao Almirante Negro João Candido. Aliais, Chico da Matilde é um vitorioso. Viu a tocha da liberdade de sua jangada destruir a trevas do sul. Enquanto Zumbi foi derrotado: enforcado, empalado, queimado, decapitado, fuzilado, imolou-se... o masoquismo deles adora essas reflexões. Afinal sentenciam: o Rei Zumbi é imortal! E pensam que vão renascer a República dos Palmares, tomara que consigam. Já, de Chico da Matilde, Não querem nem saber, pois foi cooptado pela "direita", mudou de lado. O catraeiro ficou letrado, vestiu um smoking com gravata e luvas e foi lamber as botas do Imperador e beijar o anel do bispo. As suas negras raízes ficaram brancas e delas ergueu-se a bandeira branca da paz, ou melhor dizendo, da rendição. Eles se recusam a enaltecer o feito do Dragão do Mar, pois fazer isso é alienar, desvirtuar, tirar do foco as razoes primordiais da luta revolucionaria... Na verdade com isso não querem é sair da acomodada e segura bitola da viseira estreita de suas fileiras ideológicas...

Assim mesmo Raimundo Girão escreveu “ ...A verdade é gema preciosa que suja como estiver, contém em si brilho fascinante. Basta lavá-la e seu fulgor lindamente se irradia. Quiseram denegrir e amesquinhar o feito épico da diminuta gente, porém mais forte que o despeito e o melindre dos contrariados é a limpeza das intenções e a desfantasiada realidade dos fatos ... A extinção da escravatura no Ceará, tão eloquentemente conquistada, não teve ainda seu historiador, nem o sociólogo de sua interpretação”. Na França, o nobre Proudhon ideólogo do socialismo libertário da anarquia, afirma: a propriedade é um roubo. Aqui o negro José do Patrocínio avança “Se toda a propriedade é um roubo, a propriedade escrava é um roubo duplo contrario aos princípios humanos que qualquer ordem jurídica deve servir”.

Nós fortalezenses, não devemos deixar essa página de ouro negro da historia continuar a passar em branco. Teremos que começar a lavagem da gema preciosa da verdade, talvez mudando o nome do plenário da Assembléia do Poder Legislativo de 13 de Maio para 25 de Março nativo e mais significativo. Mas, sem sombra de duvida, urge resgatar o Parque da Liberdade da Cidade da Criança antes que o Centro Dragão do Mar vire um Dragão Chinês. E é fundamental para a história e grandeza de nossa autoestima reconstruir a jangada libertadora de Chico da Matilde. É importante destacar: antes da Princesa Isabel assinar a Lei Áurea a jangada foi desmembrada, picotada e queimada num ato de terror lesa pátria por escravocratas no Museu da Marinha Imperial. Aquela jangada é o símbolo da bravura do nosso povo, mas é verdade também que primeiro é nosso ícone de liberdade. Espero a fênix acontecer. Até mesmo alavancada por um efeito Obama.

Por Luiz Edgard Cartaxo de Arruda Jr.
Memorialista.

2 comentários:

Anônimo disse...

Eliomar, o Luiz Edgar quis criticar o que mesmo?

Anônimo disse...

Há de ser sintético, ainda que remeta ao plano da hsitória. Ou não é na Web o fórum, ora pois pois.