sábado, 7 de fevereiro de 2009

UM TESTEMUNHO SOBRE DOM HÉLDER CÂMARA


O Dom da Paz.

Neste sábado, o padre Gilson Soares, assessor da CNBB - Regional Nordeste 1 e pároco da Igreja do Senhor do Bonfim, no bairro Monte Castelo, em Fortaleza, nos manda artigo sobre o Centenário de Dom Hélder Câmara. Confira esse testemunho.

Parabéns Dom!

Neste dia 7 de fevereiro de 2009, celebramos o centenário de nascimento de um dos maiores cearenses de toda história reconhecido no mundo inteiro, o profeta da Paz Dom Helder Câmara, indicado 4 vezes para o prêmio Nobel da Paz.
Tive a oportunidade de conviver com o Dom, na década de 70, quando residia, trabalhava e estudava em Recife – PE. De suas mãos recebi o Acolitato e o Leitorato, quando seminarista, no processo de formação para a vida presbiteral. Isso aconteceu numa manhã de domingo, na Matriz de Nossa Senhora. do Bom Parto, bairro Campo Grande. Era costume nada anotar nas reuniões, mas tudo guardava e articulava em seu cérebro, um verdadeiro computador.
A ideia de organizar a CNBB, Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, foi de Dom Helder, no sentido de uma Pastoral de Conjunto, uma sintonia e organização entre as Dioceses e os Regionais. Articulou a famosa Feira da Providência e preparou o Congresso Eucarístico Internacional do Rio de Janeiro. Até o Concílio Ecumênico Vaticano II recebeu, em suas sessões e documentos, a influência do grande comunicador Dom Helder.
O Papa João Paulo II, em uma procissão celebrativa, numa grande Catedral, parou, quebrou o cerimonial litúrgico chamou Dom Helder e deu-lhe um abraço demorado. “Um olhar sobre a cidade” era o nome do programa da rádio Olinda, às seis da manhã. Em poucos minutos transmitia seu recado diário, era imperdível esta mensagem do Pastor.
Suas viagens internacionais, sempre a trabalho, não atrapalhavam a Arquidiocese de Olinda e Recife, pois existia Dom Lamartine, grande e santo auxiliar.
Momentos incríveis participei, como a caminhada com o corpo do Pe. Antônio Henrique, assassinado e jogado no Campus Universitário da Várzea. A Policia Militar queria parar a multidão que cantava “prova de amor maior não há que doar a vida pelo irmão”. Dom Helder se colocou bem à frente de todos e passamos por entre os caminhões e guardas fortemente armados.
Certa vez, estávamos no Aeroporto Internacional dos Guararapes, quando a Policia Federal impediu o desembarque, em Recife, do Pe. José Comblin, teólogo de referência mundial e assessor direto de Dom Helder. Certo dia, o Bispo Helder foi ao quartel central do Exército visitar o Pe. Reginaldo, que estava ali prisioneiro. Passado o tempo da visita, o policial avisou ao Dom, que logo respondeu. “Eu vim para ficar, só saio se o meu Padre for comigo!”. Os dois foram liberados.
Seus braços abertos, dedos erguidos e olhos bem abertos eram características nos grandes momentos de seus pronunciamentos, sem esquecer a eloquência que contagiava a todos. A festa de Pentecostes, na quadra dos Padres Salesianos era oportunidade de abraçar a todos do Movimento Encontro de Irmãos. O bloco carnavalesco Pitombeiras dos Quatro Cantos de Olinda fazia questão de participar do aniversário do Bispo dos Pobres. Quando passava no Centro de Recife, sempre de batina e crucifixo, os taxistas disputavam para levá-lo, sem cobrar nada.
Numa celebração solene o coroinha não acertava a página do Missal, Dom Helder assim se expressou: “Meu filho, onde você parar, aí eu faço a oração”.
Dom Helder nasceu em Fortaleza há 100 anos, bem próximo da nossa Catedral, local onde hoje é o mercado Central, ponto dos mais visitados em nossa cidade. Que bom uma digna homenagem: “Mercado Central Dom Helder”, ou melhor ainda, uma Avenida Dom Helder Câmara.

Parabéns Dom Helder!

Nenhum comentário: