Um pouco sobre Fortaleza nestes seus 282 anos de fundação, por meio do artigo "Tentativa de fortalecer" do memorialista Luiz Edgard Cartaxo de Arruda Jr. conira;
"Procurando revitalizar o coração da cidade em 2004 fomos morar no centro na Rua Baturité, vizinhança do memorialista Christiano Câmara e da famosa e extinta panelada do Manoel Bofão. Descobri que a rua se chama, para os íntimos de Rua da Escadinha. É paralela ao rio Pajeú. O nome é Baturité assim como ainda resistem alguns nomes das ruas do centro em homenagem a municípios do estado como Crato, Sobral, Itapajé, Crateús, Icó, Massapé, Morada Nova, Itapipoca, Aracoiaba, Itaiçaba, Maranguape, Viçosa...A rua Baturité tem um porém, é a escadinha, separando seus dois únicos quarteirões. Detalhe: onde termina a Baturité na Rua Rufino de Alencar existe um muro enorme cheio de propagandas com letreiros de péssimo gosto, precisa ser derrubado pois veda a visão de um lindo cartão-postal retratando a origem de Fortaleza nas margens do Pajeú. Tirar o muro é a prova que destruir é também resgatar e ao mesmo tempo reconstruir um belo ícone de Fortaleza. Lá a engenharia comportamental na geopolítica urbana da cidade é tão esdrúxula que para você ver o Pajeú tem de subir ao terceiro andar do Mercado Central !!! Um nome que tem de retroceder é a quilométrica Avenida Presidente Marechal Humberto de Alencar Castelo Branco, essa que o povo chama de Leste Oeste. Ali, é, na realidade, a Rua Cel. Franco Rabelo e o povo ainda assim a chama. É rua curta. Vem do Mercado Central, corta a Baturité, passa na travessa do Senhor dos Passos e Rua Boris e finda no começo da Dom Manoel, são três quarteirões.
Entretanto, possui um profundo significado histórico. Em 1914 junto com o Povo, o coronel Franco Rabelo derrubou a Oligarquia Acioly. A palavra de ordem era: “Morte ao Babaquara”. Enquanto o Marechal Castelo Branco implantaria uma ditadura militar em 1964 - "A Redentora de 31 de Março" na verdade, no dia da mentira, 1º de abril, derrubando governo legitimamente eleito pelo voto do povo. Se deixarmos permanecer assim, estamos consentindo continuar o apagar da história do Ceará de uma pagina importante: "A queda da Oligarquia Acioly" , numa guerra civil urbana a partir de levante popular vitorioso derrotando um arcaico sistema de dominação da elite. Hoje só resiste o nome da rua Cel. Franco Rabelo na conta de luz da bodega do seu Luiz Soares, na esquina da antiga Senhor dos Passos que, com a chegada de uma delegacia, virou Beco do Inferno. Depois redimida toda pintada de azul, se transforma em Vila Azul. É melhor e mais apropriado a Av. Presidente Humberto de Alencar Castelo Branco começar no Forte de Nossa Senhora de Assunção e não na Dom Manoel. Ali sim termina a Cel. Franco Rabelo. É resgate do bem que o Ceará urge fazer em nome da dignidade de sua história.A rua Baturité começa na José Avelino que deve ter suas longas, largas e claras, pedras tombadas pelo patrimônio histórico.
E atenção, na esquina dela com Av. Alberto Nepomuceno, tem um mural do Floriano Teixeira que clama por restauração. Um patrimônio imaterial que não deve ser abandonado e destruido como já aconteceu com tantos outros. Subindo pela Baturité, na pintada ladeira das artes no meio tem a escadinha, um amor. Um bibelô a lapidar, precisa de aformoseamento, batentes restaurados, iluminação apropriada construção de corrimão, bancos namoradeiras, touceiras de cidreiras, roseiral e flor... Lá é um "point" singular de olhar os seguintes ícones: As torres gêmeas do seminário da prainha onde estudaram Dom Helder e Pe. Cícero, a coluna do Cristo Redentor do Círculo Operário, que chamam de Praçinha do Seminário da prainha, as torres gêmeas da Catedral; as brancas paredes do Forte com seus negros canhões; o Mercado Central; o viaduto da Leste Oeste; o mezanino da Secretaria da Fazenda; os armazéns da Rua Icó; a redoma de prata do planetário. Sete pirâmides do Dragão do mar, e daqui a pouco, o Acquário oceanográfico do Equador. A visão de tudo isso fica num “ferro de engomar” uma cunha na esquina da Baturité com Franco Rabelo. E, por lá, deve escoar fluxo turístico. A partir da demolição do muro sob o viaduto no Mercado Central, aqui mais uma vez é bom destruir para surgir o Belo, criar passarela e alça para acessar caminho a desembocar na Baturité em direção ao Centro de Arte e Cultura Dragão do Mar.
Indo além, para firmar a auto-estima da consciência cidadã do Fortalezense é necessário que alguns ícones sejam restaurados: O crucifixo quebrado e dedos decepados do Cristo Redentor no pedestal da praça do Seminário da Prainha, a face de São Jose destruída, parece que à bala no anos de chumbo do Teatro São Jose do Circulo Operário; a flauta, braço, mão e dedos cortados do Elfo sobre peixe da Praça dos Leões, em frente a tumba do Abolicionista, herói de Guerra e patrono do Exército General Tibúrcio; o braço, o arco e a flecha quebrados do Cupido na Ilha do Amor da Lagoa do Garrote no Parque da Liberdade, na chamada "Cidade da Criança". Outra imagem da cidade a recuperar é a desaparecida estampa da face da Rainha Thereza Christina, na estatua de pé com traje de Almirante de Dom Pedro II na praça da Sé, como ao lado a restauração da fonte luminosa de águas coloridas e cantantes dos cones de Sérvulo Esmeraldo, depois da retirada dos feirantes da praça. Essas restaurações não só colaboram com o turismo como a auto-estima do cidadão e, assim, combatendo desde a violência até frear o impulso de jogar lixo na rua.
Deve ser feita a repintura dos meios fios de prédios históricos do centro da cidade. A recolocação dos nomes antigos das ruas centrais da cidade, escritos a mão, em azulejos, nas paredes das residências e comércios do centro. "Rua do Sol/ Rua da Aurora/, tenho medo que hoje/ se chame Dr. Fulano de tal" ... Manoel Bandeira em: Evocação do Recife. Em Fortaleza havia ruas: da Palma, Formosa, Alegre, da apertada hora, Clara,das Flores, Bela, das Areias, da Alegria, da Felicidade... todas se chamam hoje: Dr. Fulano de tal. Algumas coisas são dignas de repetir, redizer, lembrar de novo, reafirmar, benditas sejam. Os belos e velhos nomes das ruas é uma delas. De novo tem a reprodução dos personagens da Padaria Espiritual, na Praça do Ferreira, que pensamos com Fausto Nilo. As pilastras que sustentavam vasos de plantas nos jardins da antiga praça 7 de setembro na Fortaleza da belle époque que o povo destruiu durante a queda do Acioly. Outra coisa a olhar no Centro: pintar de outra cor, que não o preto, o tubo que passa ao lado da Dom Manoel onde aflora o Riacho Pajeú que, adiante, está aprisionado dentro de um estacionamento. São detalhes minúsculos onde destruir é, ao mesmo tempo, construir e resgatar o primor de Fortaleza. Esse muro destruído liberta um rio e uma história dentro de um estacionamento privado para o vislumbre e conhecimento popular de onde surgiu Fortaleza sua geografia e história.
É necessário resgatar também da Cidade da Criança a verdade. Ali é de fato o Parque da Liberdade que foi, pela ditadura militar, mais sacaneado ainda, desmoralizaram a Liberdade ao botar placa de flandre em um dos portões e rebatizado o Parque da Liberdade com o nome de Cidade da Criança, esquecendo a estátua colosso do Índio rompendo grilhões da entrada oficial do Parque da Liberdade, que tem o nome liberdade escrito em alto relevo.E há muitas outras marcas da ditadura militar em Fortaleza. A Av. Perimetral (que o povo só chama de Perimetral), tem diversos nomes mas, nos catálogos, é o que o povo não sabe: Av. Presidente Costa e Silva. Aqui pra nos é muito ditador a denominar imensas avenidas! Procurei os assessores no gabinete da prefeita. E mal comecei, lá vem:- Esse cara só sabe falar da rua dele...
- E deixa o murro da Rufino de Alencar em paz lá mesmo que é pra gente não sentir a fedentina do Pajeú...São os mesmos que não acreditavam que povo de Fortaleza vaiou o sol como escrevi em: http://eliomardelima.blogspot.com/search?q=e+o+povo+vaiou+o+sol
* Fale com ele cartaxo@al.ce.gov.br
sábado, 25 de abril de 2009
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Um comentário:
Esse texto vou guardar como referência. Brilhante! Pra mim, esse é o pensamento de uma "Fortaleza Bela", onde o progresso pode conviver em harmonia com o passado e que os nomes de nossas ruas não sejam maculados por nossos parlamentares, que adoram mexer com os nomes de nossos logradouros.
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