Eis artigo publicado no O POVO desta terça-feira sobre Demócrito Dummar, aquele que, por cerca de 40 anos, comandou este jornal. Vem do fundo da alma de Adísia Sá, ombudsman emérita do periódico.
A dor é indivisível
"Os sábios judeus dizem que nada deve ser dito a quem contempla o seu morto: ficar ali, calado, ao lado dos que sofrem- é o que se deve fazer. Eu acredito nesta lição. E acredito porque a dor é indivisível, é de quem sofre: ela é incompartilhável. Mas a dor pode ser coletiva quando todos a vivem, por exemplo, quando da notícia da morte de um ente querido...um líder...um sábio...um santo...um homem. Também numa tragédia, num crime chocante e incompreensível. Estamos todos, não apenas os da família e os deste jornal, como dos que tomaram conhecimento do fato,- sob o peso de uma dor coletiva. Todos se abraçam, choram, silenciosos, tristes. Ninguém pergunta, nem diz quem é. Todos estamos sob o peso da dor de cada e de todos. Até neste momento ele foi plural: jamais viveu para o "eu"..."o meu".Tudo nele era o "nosso." Nem poderia ser diferente, nascido no lar do "todos": do jornal...do rádio...Jamais sonegou alegria, incentivo, espaço, amor, amizade. Jamais o vi - e eu convivi com ele mais de trinta anos - pronunciar o "meu". Mesmo quando as idéias se lhe brotavam exuberantes da mente privilegiada, imediatamente passava para os que o rodeavam: família... redação... amigos. Eu às vezes o criticava por só falar no plural e ele só fazia olhar bem no fundo de meus olhos...soltar aquela gargalhada que nos contagiava a todos e o assunto era debatido... discutido... decidido por todos. Assim na família, assim nas empresas, assim no cotidiano. Escrever artigos ou elaborar esquemas de palestras ou discursos nunca foram tarefas individuais: "escute aqui... o que acha disto? "Se estávamos em casa, ligava, telefonava. O que ele queria era compartilhar. Para mim "compartilhar" era verbo feito realidade, na vida dele. Compartilhava idéias... pensamentos... alegria... entusiasmo... projetos... carinho... amor. Neste instante, quando me debruço sobre o computador, o tenho na minha frente, atento ao que escrevo, piscando os olhos, me abraçando e dizendo: "esta minha baixinha é uma danada"... "Danado" foi você, meu galego compartilhador..."
Adísia Sá, Jornalista adisia@opovo.com.br
terça-feira, 29 de abril de 2008
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Um comentário:
UMA COISA QUE AINDA NÁO PUDE ENTENDER É O SILÊNCIO DA ADÍSIA SÁ EM RELACAO À VIAGEM DO CID GOMES. ISSO NAO ENTRA NA MINHA CABECA.POR QUE SERÁ?
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