Eis artigo publicado no O POVO desta sexta-feira intitulado "A carona, a atitude e o debate". Regina Ribeiro, jornalista, diz que Cid Gomes (PSB) agiu com arrogância. Confira:
O governador Cid Gomes teve tempo de sobra para evitar o constrangimento do pedido de desculpas feito, na segunda-feira, na Assembléia, ao povo cearense. Há mais de um mês ele poderia ter dado essas informações todas, de forma transparente, como um homem público que tem convicção de não ter feito nada fora dos parâmetros legais. Mas optou por chamar de "demagogia" a preocupação em torno no tema. Não era. O fato é que o governador agiu e reagiu como de outras vezes: vocês vão lembrar-se do episódio da mudança de regras para a escolha do dirigente da Escola de Saúde Pública e do caso das discussões em torno do nepotismo. Parece que existe por parte do governador Cid Gomes uma certa resistência em admitir que seus atos não devem ter como respaldo apenas a letra crua das leis. Elas são a súmula das regras que não se podem ultrapassar. Além das leis existem algumas atitudes indispensáveis ao homem público. Informar sobre suas ações públicas é uma delas. E fazer isso de boa vontade é outra. Respeitar as pessoas é o fundamento das duas anteriores. Nesse caso de levar a sogra de carona e aceitar que as mulheres dos assessores o acompanhassem numa viagem oficial pode não ter nada de errado, mas Cid Gomes teve a presunção de achar que o Ceará não tem nada a ver com o que ele faz, nem como ele faz. Os súditos só precisam saber que ele está no meio do mundo com um avião fretado a serviço do Estado. O nome disso é arrogância. Independente do pedido de desculpas, é bom dizer que o debate sobre o caso foi de uma pobreza espartana, do tipo que não desperta o jovem governador a rever suas posturas, nem acrescenta nada às pessoas. Li por este jornal troças sobre sogras e discursos mal construídos por parte dos parlamentares. O que está em questão nessa história toda é um modo de governar e de comunicar atos públicos por parte de um governante. O que está em jogo é uma dinâmica de gestão política que precisa respeitar a sociedade e a imprensa e isso deve ser discutido de forma sóbria, num debate qualificado onde não cabem marmotas, piadas e picuinhas partidárias.
Regina Ribeiro - Jornalista reginaribeiro@opovo.com.br
* Editorial da Folha de São Paulo também aborda o tema aqui.
sexta-feira, 2 de maio de 2008
Assinar:
Postar comentários (Atom)
4 comentários:
Concordo com tudo, mas acho que é do cearense moleque o deboche que você critica. Ora, sem a ironia não poderíamos jamais fazer troça com a contradição das tais autoridades que, com poder, perdem a noção de que o povo quer ser feliz e rir das coisas sérias que elas realizam. E não das piadas de mau gosto como, por exemplo, levar sogra de carona em viagem paga pelo contribuinte. Mesmo que paga só pelas horas de vôo.
Paulo Salem.
Para quem não sabe o Ministério Pùblico questiona a "aprovação SEMACE" a toque de caixa da implantação de uma usina termelétrica com utilização de fonte altamente poluidora do carvão mineral geradora de CO². A implantação está permitida em cima do sistema hídrico da Lagoa do Gereraú e ao lado do Jardim Botânico, em São Gonçalo do Amarante, ocupando também parte da APA DO PECÉM que foi criada justamente para diminuir os efeitos da predação ambiental com a implantação do pólo industrial do Pecém. A perspectiva é que ocorra um "Efeito Cubatão" em toda aquela área, um modelo ultrapassado de desenvolvimento e geração de energia, em um estado que alternativas de geração abundantes com os ventos e outras opções. E tudo isto sem um esclarecimento e discussão pública, aprovado por "detrás das portas" da SEMACE.
Concordo em tudo com a Regina Ribeiro. E nada me surpreende porque a arrogância é marca da família Ferreira Gomes, de quem a Patrícia herdou a forma e o conteúdo.
E também concordo com o José Sales. Termelétrica é uma coisa antiga, defasada, altamente poluente. Um passo atrás na evolução. Enquanto a SEMAM tá aí plantando árvores para minimizar o aquecimento da cidade, a SEMACE vem com essa?
Já ouvi falar de muitas outras formas de energias limpas: eólica, solar e até aquela produzida pelo movimento das ondas do mar. Sol, vento e ondas são matérias-primas que não nos faltam. Mas falta atitude do Governo Estadual. Falta de inteligência e visão de negócio da Coelce, monopólio que poderia também investir nessas variáveis energéticas ao invés de simplesmente aumentar a tarifa.
Regina Ribeiro, aplausos pra você!
De forma lúcida e corajosa, como só o Jornalismo (com inicial maiúscula) pode produzir, você foi 10 (melhor dizendo, 1.000...).
Concordo com tudo, e suas palavras falam também pela boca de muitos como eu. É detestável a forma como esses "politicantes" se auto-investem de poderes soberanos, com uma arrogância digna de tiranetes de países de 3º mundo, que subjugam seus povos de forma despótica e prepotente. O que transparece neles é a crença de que estão acima da Lei, como se corresse sangue azul em suas veias.
E por falar em sangue azul, até a família real na Inglaterra presta contas de todos os seus gastos a seus súditos, sem prepotência, arrogância ou cara de abuso, como os membros da Oligarquia Ferreira Gomes. Coisa de pobre de espírito, né? (A pior das pobrezas).
Por tudo isso, PARABÉNS, Regina, por sua lucidez e coragem de mostrar a coisa com o nome que ela tem: prepotência. Eu só complementaria juntando outro nome: IMPROBIDADE.
Carol
Postar um comentário