domingo, 4 de janeiro de 2009

MESA DA CÂMARA - PREFEITA DESABAFA, FALA EM TRAIÇÃO E EM COMPRA DE VOTOS


"A palavra certa é desabafo. A prefeita Luizianne Lins (PT) cita diretamente os nomes do seu vice, Tin Gomes, e do novo presidente da Câmara de Vereadores, Salmito Filho, no centro de suas duras críticas pelo que aconteceu em torno do processo sucessório no Legislativo de Fortaleza. Queixa-se de Tin, por exemplo, quando ele afirma desconhecer o acordo que dava ao PSB o direito de indicar o candidato. Seu argumento principal: a proposta, feita lá atrás, partiu do próprio Tin Gomes. Quanto ao correligionário Salmito, ela se diz frustrada por perceber que ele não mudou como garantia ter feito após o aprendizado dos quatro anos do primeiro mandato. Metade dele, lembra Luizianne, numa postura de quase oposição à sua gestão. “Traição”, “conspiração” e “ingratidão” são termos que permeiam a conversa dela sobre o processo sucessório na Câmara o tempo todo. Luizianne Lins recebeu O POVO na manhã do sábado, em seu apartamento, para a entrevista que tem os trechos principais apresentados abaixo:

O POVO - Prefeita, o que deu errado na articulação em torno da escolha do novo presidente da Câmara de Vereadores?

Luizianne Lins - O que é que me leva a falar sobre esse episódio que pra mim é extremamente doído porque é uma sucessão de atitudes na política que eu não faço, mas eu acho por bem trazer a verdade à esfera pública, indignada com a manipulação que se tem feito, de sucessivas mentiras que vêm sendo plantadas inclusive com perfeita clareza pra manipulação da opinião pública, e mais grave, manipulação inclusive de alguns jornalistas de boa-fé.

OP - Já estava supondo que ia acontecer o que aconteceu?

Luizianne - Eu ia pros cantos, desde que eu voltei de viagem, só se falava nisso. “É Guilherme ou é Salmito, prefeita?” Tudo que eu pedi pra não acontecer. Aí você vai entender. Chamei aqui o grupo que coordena o governo: eu, Catanho (Waldemir Catanho, coordenador de Articulação Política), Nágela (Raposo, assessora institucional do Gabinete da prefeita), Helena (Barroso, chefe de Gabinete), o presidente municipal do PT (Raimundo Ângelo), o Antônio Carlos, que é secretário-geral (do diretório estadual do PT), porque o Ilário (Marques, presidente estadual) estava viajando. Eu chamei pra dizer o seguinte: olha, eu estou aqui pra dizer da minha alegria, dessa vitória popular que nós tivemos. Muito feliz dos quatro terem sido eleitos. Acrísio (Sena) e Ronivaldo (Maia), que são pessoas muito ligadas a mim, o Guilherme por ter sido uma pessoa que colaborou muito com o nosso governo, e o Salmito de dois anos pra cá, quando ele deixou de fazer enfrentamentos sistemáticos ao governo, depois de 2006, quando ele teve uma grande derrota eleitoral, teve uma votação muito baixa pra deputado estadual, ele foi uma pessoa...

OP - A senhora disse isso pra ele inclusive?

Luizianne - Disse pra ele. Nos dois últimos anos (ele) tem ganhado a nossa confiança. A primeira pergunta que eu quero fazer pra vocês é a seguinte: vocês acham que a gente tem condição, a esquerda tem condição de enfrentar, de assumir a presidência do Legislativo? Todos concordamos que teria. Imediatamente eu disse, imediatamente: “Quem tiver interesse nessa disputa, saiba que existe um acordo”. E usei esta expressão, que eu costumo usar: “Acordo, pra mim, é pra ser cumprido”. Acordo não é coisa de moleque, que faz o acordo na hora que está precisando, e depois faz de conta que ele nunca existiu. Isso é coisa de moleque. Eu não faço política com moleque, não faço. Foi dito na hora que existia um acordo com o PSB, por ocasião, naquele momento, da ansiedade do então presidente da Câmara em ser indicado vice-prefeito. Surgiu dele inclusive a idéia do acordo, que ele hoje nega e diz que faltando dois dias que o acordo aparece. Foi ele que inventou, foi ele o responsável.

OP - Nessa reunião a senhora liberou, digamos assim, o Salmito e o Guilherme para serem candidatos?

Luizianne - Não. Nesse momento, o Salmito me disse que era um soldado, estava lá para somar.O Guilherme e o Salmito eram os nomes possíveis naquele momento. Nessa ocasião, o Guilherme diz que acha que não é o desejo dele, ou seja, ele declina de certa forma, mas sai para pensar. De qualquer maneira nós não vamos decidir aqui, eu só estou comunicando essa situação que é possível que possa ser um nome do PT, agora existe um acordo. Para minha decepção, imediatamente depois da reunião, sai o Guilherme pra construir a candidatura dele para um lado, sai o Salmito para construir a candidatura dele pro outro, e ninguém sequer faz menção ao acordo, e muito menos dialoga com o PSB sobre isso. Quando eu volto de viagem, tudo que eu queria, que é que eu imaginava, que é que eu faria se eu estivesse nessa bancada do PT como eu já fiz outras vezes, que eu não sou mulher de ficar com futrica pra um lado e pro outro. Chamaria, juntava os quatro vereadores, tirava um nome do PT, e a partir dali eu iria conversar com o PSB e tentar readequar o acordo.

OP - Quando a senhora encontrou esse cenário em que pareceria haver a candidatura do Salmito e do Guilherme procurou conversar com o Tin, por exemplo?

Luizianne - Não. Eu procurei o Guilherme e o Salmito. Com o Tin eu já tinha falado antes. Ao contrário do que ele diz... Foi ele quem propôs o acordo. O acordo foi feito por ele. Eu não imaginaria nunca que ele ia negar o acordo. No momento em que o Tin começou a se meter, eu procurei o governador e disse: “governador você tinha falado que quando houvesse qualquer mal estar em relação à posição do Tin como vice eu poderia procurar o senhor, pois estou lhe procurando para dizer o seguinte: o Tin está se metendo na eleição da Mesa Diretora da Câmara e isso não é justo, não é certo. Eu disse mil vezes pra ele: Tin você não vai conseguir ser vice, porque você quer estar é na Câmara, quer ser vereador! Eu já tive dois deputados no meu gabinete relatando as palavras do Tin dizendo: “vou mostrar que enfrento ela e elejo o Salmito”. Neste momento comecei a ficar temerosa. E nesse momento o PSB coloca o acordo.

OP - Dentro desse processo, o Salmito tem falado em chantagens e pressões pra mudar o voto dos vereadores. A senhora reconhece algum tipo de chantagem? Qual a pressão feita?

Luizianne - De forma alguma. O que houve foi o seguinte. Teve um vereador que disse que eu liguei para ele. É mentira dele. Eu me comuniquei, por telefone, com apenas um vereador, que foi o Luciram Girão. Por que havia a informação de que ele ainda estava indefinido e o Elpídio pediu para eu ligar pra ele. O Marcos Teixeira... ligaram para mim dizendo que o Eunício (Oliveira) tinha convencido ele de que era correto votar no Elpídio. Então o PMDB pediu pra agradecer ao Marcos e eu liguei para agradecer e nada mais. Nenhum outro telefonema foi feito. O governador chegou a falar por telefone com o vereador João Batista também. Agora eu vou contar o que eu sofri. Teve um determinado vereador, que eu prefiro não dizer quem é por que a história mesmo vai deixar muito claro, que usou esta seguinte expressão para o Elpídio. “Olha, Elpídio, eu quero que você diga o seguinte para a prefeita: eu só retiro meu nome do apoio ao Salmito se ela for hoje (dia 31) dar uma entrevista coletiva na TV dizendo que eu sou o próximo secretário municipal de saúde. Esta é a única condição”. Isso por porque segundo esse vereador o grupo dele já tinha garantido, querendo eu ou não, que ele já seria o secretario municipal de Saúde.

OP - Mas quem é que poderia ter dado essa garantia a esse vereador?

Luizianne - Eu não tenho a menor noção. Mas tenho noção de uma reunião que houve em um buffet onde 26 vereadores lá estavam. Eu confirmei isso com o Salmito, na frente do Ilário, do Raimundo (Ângelo) e do vice-governador (Francisco Pinheiro)... E eu acho bom que a opinião pública saiba que nessa reunião foi dito o seguinte: “a prefeita está dizendo que não será benevolente com quem tiver confrontando com o governo”. No que vereadores presentes comentaram: “isso é besteira, vocês que são novos, isso é besteira, ela não aquenta três meses de CPI encima dela, ela abre pra todo mundo”. Cheguei a citar que tinha sabido dessa reunião e ele não negou. Pelo contrário, disse que tinha sido o pessoal da oposição. Olha o nível a a que chegou essa articulação!"

* Leia a entrevista do O POVO aqui.

7 comentários:

Marcos_Ce disse...

Não é papel dela se meter com isso. Está magoada? Pois mereceu. Se prepare prefeita que a coisa vai ser feia pra senhora. Ou vai usar isso como desculpa pra abandonar a prefeitura na metade? Renuncie logo, vá se tratar, perder uns quilos e ganhar humildade, depois a senhora vê o que vai fazer. Deixe Fortaleza respirar, pois está sufocada de tanta obra virtual.

Anônimo disse...

Espero que esse seja um passo realmente para a independência da câmera dos vereadores e que possamos ter pelo menos um poder independente a nível municipal, já que na gestão passada da prefeita e na atual do governador o legislativo pela falta de oposição só podia dizer amém!
E que não seja um início de leilão de cargos e votos...

Océlio Teixeira de Souza disse...

Caro Eliomar,

Esse imbróglio da eleição da Messa Diretora da Câmara de Fortaleza é emblemático da crise de poderes que vivemos na atualidade, e, principalmente, da crise do modelo político que temos. Tem razão a excelentíssima prefeita, que por sinal vem fazendo um excelente trabalho à frente da prefeitura, mas também tem razão aqueles que se opuseram a ela e elegeram o candidato de "oposição"(entre aspas, pois o engraçado é que o candidato vencedor é do mesmo partido da prefeita, e o candidato por ela apoiado, é da base, mas de outro partido).

Quero aqui lembrar que a Constituição Federal, no seu Art.
2º, reza: São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário.

Por sua vez, a Lei Orgânica do Município de Fortaleza, no Art. 9°define: São poderes do Município, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo e o Executivo.

Deixo a pergunta: quando vamos ter uma REFORMA POLITICA SÉRIA que acabe com essas negociatas, rasteiras, traiçoes, e, sobretudo, com a intervenção de um poder sobre outro?

PS: Eliomar, aproveito a oportunidade para parabenizá-lo pelo belo trabalho de informação que vc faz aqui nesse blog.

Anônimo disse...

Eliomar, o vice tinha obrigação de afastar-se da eleição da Mesa e a prefeita tinha de obrigação de meter o bedelho? Essa equação política é demais.

Océlio Teixeira de Souza disse...

Prezado Eliomar,

esse imbróglio envolvendo a eleição da mesa diretora da Câmara de Fortaleza é emblemático da crise de poderes que vivemos na atualidade, e, principalmente, do modelo político que temos no Brasil. A prefeita, que vem fazendo um bom trabalho à frente da prefeitura, tem razão em gritar, pois havia um acordo. Aqueles que optaram por outro nome para dirigir a Câmara Municipal também têm razão. Afinal, o Legislativo é independente. Por falar em independência, quero lembrar que a Constituição Federal, no seu Art. 2º, reza:São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário.

Por sua vez a Lei Orgânica de Fortaleza, no seu Art. 15, define: São poderes do Município, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo e o Executivo.

Deixo então a pergunta: quando vamos ter uma REFORMA POLÍTICA SÉRIA que ponha fim a essas coisas nefastas (rasteiras, traições, negociatas, intervenção de um poder sobre outro...) à democracia brsileira? Essa é a questão central a ser discutida no momento, e não se houve acordo, se o acordo foi quebrado, se o presidente eleito vai ser oposição(mesmo sendo do mesmo partido da prefeita!!!), etc, etc... Vale salientar que essa prática tornou-se corriqueira, desde o Congresso Nacional até as diversas Câmaras Municipais. Aonde vai parar nossa democracia?

PS: Aproveito o momento para parabenizá-lo pelo belo trabalho que vc faz à frente deste blog, sempre informando com precisão e imparcialidade.

Ismael Luiz disse...

A PREFEITA LUIZIANNE LINS,COMO POLÍTICA HÁBIL QUE É,SABE QUE,NO JOGO POLÍTICO,O IMPORTANTE É NÃO PERDER,VALE,ATÉ,PISAR NO PESCOÇO DA PRÓPRIA MÃE,COMO DISSE,UM DIA,LEONEL BRIZOLA,EM RELAÇÃO AO,ENTÃO "SAPO BARBUDO".QUEM PERDE,TEM O DIREITO DE ESPERNEAR,EMBORA,NO MODELO DE VINGANÇA,QUE PAIRA NOS MEIOS POLÍTICOS,CALAR-SE E ESPERAR A HORA DO TROCO,SEJA MAIS PLAUSÍVEL.CHORAR,É DOS HOMENS...E DAS MULHERES,TAMBÉM.

Anônimo disse...

Passei ontem em frente ao "hospital virtual" da mulher. Ela não disse que entregaria a primeira etapa agora? O que aconteceu? ESTELIONATO ELEITORAL!!!
Carlos Nobre