"Foi a primeira e única vez que Francisco Mororó, contraventor assumido, foi preso por liderar os chefes do Jogo do Bicho de Fortaleza. Ele preside o banco Paratodos desde 1976, ano em que os banqueiros da jogatina não autorizada acabaram desavenças, se uniram, criaram a organização e passaram a dividir os lucros das apostas da zooloteria. Mororó completou 80 anos no mês passado. Quando a Polícia Federal bateu na porta de sua casa, às seis da manhã do último dia 9, ele já nem pensava mais em ser preso. Foram tantos anos de ilicitude tolerada pelas instituições do Estado que a surpresa da prisão aconteceu. No desfecho da Operação Arca de Noé, Mororó e mais nove pessoas foram presas. Nenhum ficou mais de três dias detido. As acusações apontadas pela PF foram de lavagem de dinheiro, formação de quadrilha, evasão de divisas e sonegação fiscal. "Seu Chico", como é chamado pelos cambistas, só assume um. "A gente é contraventor mesmo", não nega. Nas últimas três décadas, a Paratodos criou empatia a um público de apostadores de reais pequenos. Também empregou aposentados, gente inválida, amparou suas famílias com assistência médica e distribuiu benfeitorias a várias instituições filantrópicas - 68 atualmente, afirma. Como a lei nunca reprimiu, o Paratodos retribuiu e manteve as ofertas caridosas. Nesses anos, foi como pagar um imposto de gratidão, já que o Estado não cobrava a ilegalidade. A entrevista a seguir, exclusiva ao O POVO, é uma das poucas concedidas por Mororó, em três décadas como chefe do jogo. É a primeira depois de sua detenção pelos federais. A conversa, de duas horas e meia, também foi partilhada por Arnaldo Viana de Paula, já aposentado do jogo mas ainda ligado à Organização, e seu filho, Arnaldo Júnior, que hoje atua como diretor do banco. Não quiseram fotos. Mororó garante que não emprega policiais, "apenas ex-policiais", para seus serviços de segurança. Admite ter uma conta no exterior, que estaria devidamente esclarecida junto à Receita Federal, com um depósito de R$ 1 milhão. Afirma que bicheiros de Fortaleza ligados a caça-níqueis não fazem esse tipo de jogo com o aval do Paratodos. E conta que bicheiro não é milionário. O volume de apostas diariamente na Capital, segundo ele, passa pouco dos R$ 200 mil, metade do que estaria sendo apontado pela Polícia Federal."
* Do Jornal O POVO, leia a entrevista aqui.
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