quinta-feira, 26 de março de 2009

CENSURA AO O POVO - MORORÓ DIZ NÃO TER NADA COM ISSO


"Logo que encerrou a entrevista, Francisco Mororó admitiu o alívio: “Vocês não sabem o bem que estão fazendo em me deixar desabafar. Hoje pelo menos vou poder dormir mais tranquilo”. A descrição dada pelo presidente da Organização Paratodos mostra a pressão criada nos bastidores em torno do episódio de censura prévia imposta ao O POVO por decisão da Justiça estadual. Desde as 22 horas da última quinta-feira, o Grupo de Comunicação O POVO está impedido judicialmente de divulgar reportagem sobre movimentação financeira irregular de um dos sócios da organização que controlava o Jogo do Bicho na Capital. A liminar atendeu pedido dos advogados desse empresário. Mororó subiu à Redação do O POVO, ontem à tarde, para “esclarecer de vez” que é somente esse empresário - e não ele, Mororó, nem os demais bicheiros - que pediu a proibição da matéria. Mororó preside a Organização Paratodos desde 1976. É o principal símbolo do Jogo do Bicho na cidade. Por isso, diz estar sendo cobrado pelos outros sócios a dar explicações públicas. Segundo ele, houve insatisfação e mágoa entre os demais bicheiros com o empresário após o episódio de censura ao O POVO. Diz que teria atrapalhado uma tentativa do grupo de negociar com setores influentes da sociedade uma proposta de legalização do jogo.

O POVO - Por que o senhor decidiu procurar o jornal?

Francisco Mororó - Eu vim ao jornal porque tenho sido muito pressionado pelo pessoal do Paratodos, em virtude daquela matéria (censura ao O POVO) e queria fazer alguns esclarecimentos.

OP - Cobrado por quê?

Mororó - Porque querem saber quem é. As pessoas chegam a mim, e dizem, ‘rapaz, você...’

OP - Estão achando que é o senhor?

Mororó - É. Ando tão desajeitado com isso, que vocês nem imaginam. Entendeu? E eu digo: ‘Rapaz, eu não tenho nada a ver com isso, não. A firma dele é completamente diferente’. Aí perguntam: ‘e como é que estão dizendo que ele é acionista?’ Já foi, fechou lá, não é mais.

OP - Mas o senhor quer esclarecer exatamente o quê?

Mororó - Eu sei que vocês estão obedecendo a uma ordem judicial e não podem nem publicar nada, mas eu vim aqui pessoalmente porque a minha consciência me pediu e não queria que interpretassem como uma desobediência judicial...

OP - Um esclarecimento, senhor Mororó: a determinação judicial restringe a publicação de nomes do envolvido, da empresa e de valores que ele tentou sacar.

Mororó - Pois eu volto a dizer que tenho sido tão cobrado pelas pessoas. Fico em uma situação tão difícil. As pessoas dizem, ‘olhe, é uma pessoa de lá...’. Eu não quero ofender, criar atrito com ninguém, desmoralizar a decisão do juiz, não. Preciso e quero é mais desabafar. Ele (o empresário que tentou movimentar a conta bloqueada e recorreu à Justiça para impedir a publicação da matéria no O POVO) tem a firma dele, o nome, tudo. Aí, o que é que acontece? Existe o processo contra o Paratodos e essa firma não tem nada com o Paratodos.

OP - Mesmo a firma não tendo ligação com o Paratodos, faz parte dos bens bloqueados pela Justiça. Por isso ele não pode movimentar a conta.

Mororó - Está tudo na ação, tá certo? Mas esse fato tem trazido tanta atrapalhação para as outras pessoas do Paratodos que não posso ficar calado, com as pessoas achando que temos algo com isso.

OP - Mas em que o fato tem atrapalhado os demais sócios do Paratodos?

Mororó - Rapaz, isso tem magoado tanto a minha mente. Não adianta dizer que não sou o responsável por isso. As pessoas ficam sempre com a desconfiança.

OP - Os outros sócios têm falando com o senhor sobre esse fato?

Mororó - Todo mundo. Eles dizem: ‘rapaz, como é que a gente faz?’. Fica a impressão que estão todos envolvidos. Quando o jornal diz que é um sócio, um acionista, ficam dizendo: ‘será que é fulano, é sicrano?’, e vai bater em cima de mim. Então, vim aqui mais para desabafar, mas não queria que ele ficasse magoado comigo. Estou com 80 anos e meu pai ensinou uma coisa: ‘aprenda a ser ofendido e aprenda a não ofender’. E ainda hoje levo isso em prática. Mas preciso descarregar, desabafar.

OP - Os senhores têm tentando legalizar a situação do jogo do bicho?

Mororó - Temos pedido a tanta gente. Não é por nós. Você não pode imaginar a quantidade de pessoas que levava a vida dali. A maioria são meninos de cabelos brancos e se não tem emprego para jovem, vai ter para velho?

OP - Havia disputa por mercado entre vocês e outros jogos?

Mororó - Não, porque os próprios cambistas iam para eles (promotores de outros jogos) e ganhavam a comissão deles.

OP - Então, de certa forma, a saída do jogo do bicho beneficiou esses outros jogos no mercado?

Mororó - O que o senhor está dizendo, eu também já escutei de outras pessoas... Meu querido, muitas pessoas já me disseram: ‘Vixe, no próprio instante em que parou aqui esse povo correu para lá’. Não sou eu que digo. São as pessoas que comentam isso.

OP - O senhor acha que esse fato tem impacto negativo para um possível retorno do jogo do bicho?

Mororó - O que nós temos conversado é o que agora muita gente anda dizendo: ‘olha aí, os homens tinham era um negócio acolá, e ninguém sabia, e tudo mais’. Quer dizer, se alguma autoridade estava querendo legalizar, vendo isso, agora vai recuar. Dizem logo: ‘Eles criaram foi outra firma acolá e tal...’

OP - O senhor chegou a conversar com o empresário depois desse episódio todo?

Mororó - Não. Depois da Polícia Federal (Operação Arca de Noé), não conversamos mais. A coisa ficou assim tão desajeitada, né? Fica até com vontade de conversar, mas....

OP - Mas depois dessa repercussão, o senhor quis procurá-lo?

Mororó - Dentro da minha consciência tenho vontade de conversar com ele. Mas um dia penso, no outro dia digo: ‘rapaz, não é melhor esperar esfriar mais’? Porque não sei como é que vai ser o contato. Mas lhe digo com sinceridade: ‘se me encontrar com ele, eu me abraço’.

OP - E que pensam os demais integrantes do Paratodos?

Mororó - Estão todos preocupados. Eles também acham que dificulta com as autoridades uma ação no sentido de voltar a funcionar o Paratodos.

OP - O episódio pode causar racha no grupo?

Mororó - Ah, ficaram todos magoados. Prejudicou a todos.

OP - Quantos procuraram o senhor?

Mororó - Todos. E me perguntam: ‘Chico, e agora, quando é que vamos voltar a trabalhar’?

2 comentários:

Anônimo disse...

E em Sobral, pq o Jogo do Bicho continua livremente? Nunca ocorreu nenhuma ameaça por lá?

Ismael Luiz disse...

Para os que desejarem saber,detalhadamente,sobre todo o episódio,recomendo o acesso ao http://emoff.hostse.com/emoffbr.htm