Duas bombas-relógio estão sendo armadas para o Centro de Fortaleza e Praia de Iracema.
A primeira delas ou "primeiro item de destaque", como se diz na abertura de um bom debate, trata da indicação para inclusão no escopo do novo Plano Diretor Municipal, de uma ZEIS, no Centro. Exatemente isto: uma Zona Especial de Interesse Social. Uma proposta caracterizadamente imprópria, inadequada e gravíssima, pois abre um precedente de retirar as normas de ordenamento e estruturação que ali ainda persistem, por bem ou por mal. E por outro lado, vai de encontro ao que se pensa para o futuro da própria área central.
Uma proposição extemporanea, como esta, foi de novo produzida em São Paulo, com o apoio de alguns equivocados consultores locais, para ser aplicada aqui em nossa terrinha de Tapebas, como não tivessemos a capacidade crítica de formatar e conceber nossa própria visão de futuro para zona central. E desenhar a mesma para o Centro da cidade de Fortaleza.
Ao mesmo tempo se esquecem estes "estudiosos" que o Arraial Moura Brasil existe desde 1870, originalmente como canteiro de obras da ferrovia, depois como zona do meretricio e mais à frente como bairro popular reconhecido que nunca se fez, em tempo algum, qualquer proposição digna deste nome para aquela situação esquecida na própria área central. O Moura Brasil é uma zona especial de interesse social na definição clássica da mesma e, há exatos 138 anos reclama o status de "cidade oficial".
O "segundo item de destaque" ou a segunda bomba-relógio, esta armada para a Praia de Iracema e também não deixa por menos e, envolve uma "ameaça velada", que vem se consolidando no seio da própria administração municipal, para com o nosso maior pólo cultural que é o Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, que neste ano 2008, completa 10 anos de atividades e quase um milhão de visitantes anuais em suas instalações e participantes de suas atividades.
A "grande idéia", oriunda da SER II/ Secretaria Executiva Regional II, é transformar toda a Rua José Avelino em um "Camelódromo 24 horas", para abrigar os "permissionários do Shopping Chão" das Praças da Sé, Pedro II e Avenida Alberto Nepomuceno. Uma total loucura, fruto de uma falta de visão urbanística, açodada pelos fatos correntes e pela ausencia de um Sistema de Planejamento em nossa cidade, desde o dia em que resolveram "matar e enterrar em cova profunda" o IPLAM/ Instituto de Planejamento Municipal. E já que a SEPLA/ Secretaria do Planejamento Municipal não se manifesta qualquer setor da Prefeitura se julga no direito de planejar o contexto urbano de nossa cidade.
Que se manifestem os interessados. Inclusive todos os que são preocupados com os destinos da área central de nossa cidade, estudiosos, associações de classe, inclusive os nossos digníssimos representantes legislativos municipais, a Fecomércio, o CDL e outras entidades de representação profissional, também, considerando que estes fatos de extrema gravidade.
Arquiteto e Professor
José Sales.
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13 comentários:
Esse Zé Sales é um elitista. Só porque essas duas ações vão beneficiar o povão, o "professor" é contra? Vai ver ele faz parte daquela burguesia que frequenta os barzinhos do Dragão.
Eu faço parte da burguesia que frequenta os barzinhos do Dragão e lá tenho a oportunidade de partilhar o mesmo espaço com todas as faixas sociais. Não existe lugar assim em Fortaleza. A Beira Mar por exemplo, o pobre frequenta pra ganhar a vida e não pra se divertir como acontece no Dragão do Mar. Já com relação a rua de comércio popular, não vejo nada contra, em SP por exemplom tem a 35 de Março, o Bom Retiro, entre outros locais que tem esse perfil e por que não ali?
Agora o que eu sei é que quando fizeram os primeiros estudos pro Centro de Feiras, o Sr. Tasso comprou, diretamente e por meio de terceiros todos os galpões da rua do Poço da Draga. Será que o arquiteto não está defendendo os interesses desse magnatas que especulam na região?
Estive no Centro nesta tarde de domingo e tomei um susto: ali parece um mercado persa dos piores. Uma desorganização,um absurdo. Não dá nem pra andar na Praça José de Alencar de tanto camelô.
Eliomar,
Antes de tudo minha admiração e respeito, sou seu fã, rapaz!
Gostaria de ler aqui a opinião de urbanistas (podemos assim numa licença discursiva generalizar arquitetos e geógrafos) Fausto Nilo, José Borzacchiello da Silva, Romeu Duarte, Antônio Luís de Macedo e Joaquim Cartaxo.
É um tema de suma importância. A opinião deles, fundamental.
Veja como é aloprado esse povo da prefeitura. Na hora de argumentar utilizam esse papinho de "luta de classes"!: "Tá criticando porque é elite!" Credo, virem o disco, tirem a camisa de che guevara, façam a barba e tomem um banho, por favor!
Dêem um tempo! É só no papo de elite, sabotagem, perseguição, vitimização, aff..
E ainda não mostram a cara preferindo comentar anônimo. Essa cidade está afundando.. Todas as capitais do nordeste estão sendo bem melhor administradas que a nossa, estão ficando lindas, só evoluindo, enquanto isso a gente só regride desde que essa marxista esotérica assumiu. Nossa capital está de nos fazer vergonha: imunda, esburacada, tudo velho, caindo aos pedaços, sem fiscalização, sem organização, um caos! Nesses ultimos 4 anos nós só fizemos regredir!
Como já li por aqui, dizer que essa administração vem fazendo bem à cidade é uma tremenda falta de amor à Fortaleza! Meus Deus, parece que fizeram um pácto para nada dar certo, para deixarem toda o profissionalismo de lado e só pensarem no carguinho comissionado de fulaninho, do afilhado, do sobrinho, da namorada da filha, etc
Desse jeito em 4 anos nossa cidade vai estar afundada no lixo, na decadência.. Enquanto isso Recife que nos anos 90 era um lixao favelizado à céu aberto e mais Natal. João pessoa, etc vão tomar nosso lugar no turismo, fazendo uma massa aqui perder sua fonte de renda..
Com essa atual gestão municipal nós só regredimos em relação aos anos 90, só regredimos...
Não se organiza o contexto urbano e notadamente os espaços públicos com as exceções. Proporia aos senhores uma visita hoje à noite ao "Shopping Chão" que começa pro volta das 11 da noite, nas Praças da Sé, Pedro II, Av. Alberto Nepomuceno e início da Rua José Avelino. Será que o contexto do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, único espaço notadamente democrático de nossa cidade vai aguentar esta tentativa de "invasão organizada" pela própria atitude equivocada da Prefeitura Municipal?
Porque a Prefeitura Municipal e a Habitafor não tem uma proposta para o Arraial Moura Brasil? Não se enxerga o problema, que está lá 138 anos? Alguém consegue responder esta questão, inclusive os "geniais" arquitetos, urbanistas e outros estudiosos que estão dando suporte a eqúivocada idéia da ZEIS Central?
O CENTRO DE FORTALEZA ESTÁ UM LIXÃO DE PRIMEIRA!! ESSA É A FORTALEZA BELA???
Prezado José Sales,
Com todo respeito a sua pessoa, devo discordar do seu ponto de vista, mesmo porque me pareceu um tanto quanto elitista.
Primeiro pelo fato de apontar como absurdo a classificação de partes do bairro Centro como ZEIS - Zonas Especiais de Interesse Sociais, destinada a habitação popular.
Tal perspectiva é uma demanda histórica do movimento de reforma urbana, em todo país, voltada tanto ao aproveitamento de uma quantidade enorme de imóveis desocupados (enquanto milhares de pessoas não têm onde morar). Fato este que ocorreu principalmente a partir de quando a "onda shopping" deslocou o fluxo do "comércio de luxo" para bairros nobres da cidade. Além disso, o centro fica longe para muitas pessoas pobres se deslocarem, quer seja para fazer compras ou para acessar equipamentos culturais.
Um outro aspecto social relevante é a questão da violência no centro da cidade, notadamente à noite. Isto ocorre em grande medida pelo fato de aquela região se tornar uma verdadeira "cidade fantasma" após o horário comercial. Com a fixação de residências familiares naquela região, possivelmente será reduzido o ambiente propício a situações de violência, como prostituição e o trafico de drogas.
No que se refere ao segundo ponto de seu texto, referente a instalação de camelódromo nas imediações do Centro Dragão do Mar, apesar de não conhecer o projeto, não vejo, a princípio, problema quanto ao fato. Aliás o Centro Dragão do Mar é um equipamento público importante da cidade, que, infelizmente, está bastante distante da realidade da maioria de sua população (que é pobre).
Por exemplo: recentemente me interessei em assistir um show do Tom Zé (M"P"B) no Anfiteatro daquele "espaço cultural", mas logo desisti ao tomar conhecimento do preço do ingresso (R$ 20,00). E o anúncio dizia se tratar de um "Projeto MPB Petrobras"... imagine se não fosse ! Acho isso um absurdo... e olhe que sou uma pessoa de "classe média".
Não vejo problema algum se for criado um "centro comercial popular" (camelódromo) nas imediações do Centro Dragão do Mar. Temos que acabar com esse verdadeiro "apartheid" social que existe em Fortaleza, inclusive no que se refere ao acesso à cultura.
Sobre o "Arraial Moura Brasil" também acho que merece uma atenção maior do poder público municipal (até mesmo com apoio dos governos Estadual e Federal), tanto pela precária condição de vida das pessoas que vivem naquele bairro, quanto pelo valor histórico daquela área... assim como a comunidade do Poço da Draga.
Não é sonegando áreas centrais da cidade aos pobres, expulsando-os para as periferias, que iremos resolver os enormes problemas socio-ambientais-urbanísticos existes em nossa cidade.
Cordialmente,
Arnaldo Fernandes
Por que este tucano tem tem tanto espaço neste blog !? Ressentimento nada constrói !!
João Teles
Caro Arnaldo Fernandes. Não se resolvem as demandas por habitação com mais segregação espacial-social através da criação artificial de ZEIS/ Zonas Especiais de Habitação Social. Existem aproximadamente uns 75 grandes edifícios "abandonados" no coração central de nossa cidade - dados d Levantamento 2003/ Plano Diretor de Habitação feito pela SDLR/ Governo do Estado - e basta uma revisão da própria Legislação em vigor, com a retirada da exigencia de garagens por unidade ou desvinculamento de garagens na mesma edificação ou uma maior flexibilização da intrepretação legal, para que os mesmos passem a ter novo uso e ocupação. Hoje burramente é praticamente "proibido morar no Centro".
Caro Arnaldo Fernandes: porque ignorar a presença histórica do Arraial Moura Brasil, como o proprio nome indica, uma designação do Século XIX (1870) também chamado de Cinzas ou Curral das Éguas (Ou das Putas). Esta comunidade tem mais de 5.000 pessoas e merece uma solução urbanística e social adequada. Uma demanda de exatos 138 anos.
O grupo de "estudiosos" paulistanos e alguns neófitos locais, nem toco nesta assunto do Arraial Moura Brasil. Preservação do preconceito contra aquela situação central ou desconhecimento da situação mesmo?
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