Vaiando o Sol
Por Luiz Edgard Cartaxo de Arruda Júnior, Memorialista
Sem dúvida podem pensar ser prepotência, arrogância, audácia. só um povo que se acha o dono e umbigo do mundo para vaiar o Sol. Foi o que fez o fortalezense em 30.01.1942. Não é por aí, na verdade é molecagem, fuleiragem cearense, traquinagem e presepada dessa gente serelepe, o gosto de fazer pouco de tudo. Aconteceu no auge da 2ª Guerra Mundial. E por que? Depois de um toró d'água de mais de três dias encarrilhados e sem uma gota de Sol, na manhã, quando o sol deu as caras, levou vaia na praça do Ferreira.
Agravantes: A sociedade fortalezense se degenera com a presença militar norte-americana. Surgem as garotas coca-colas (o que a Coca-Cola não sabe?). Na Guerra em Fortaleza, chamar uma mulher de garota coca-cola era pior que rotulá-la de rameira, devassa, ninfomaníaca etc. Para não irritar as politicamente corretas: moça fácil, atirada e mal-falada. Havia também os blecautes na cidade, brigadas de apagões nas ruas de Fortaleza para extinguir fontes de luz que pudessem identificar a cidade no espaço aéreo à noite. Afinal, aqui é a esquina do mundo e, por isso, região estratégica. Foi com esse clima que o povo vaiou o Sol.
Numa óptica sociológica nativa: o povo viu chegar uma inexplicável alegria no rosto desanimado daqueles que lucravam com a indústria da seca, depois do aguaceiro, ao ver brotar o Sol como uma esperança negra para seu sórdido negócio vingar. Em represália, o povo vaiou o Sol como protesto.
Já os poetas e boêmios notívagos embriagados de estrelas, lua e mel na certa vaiaram o Sol para que ele voltasse e, assim, encompridar a escuridão. Sem acabar o encantamento da nudez da noite ao pudor do Sol.
É demais vaiar o astro-rei, o maior ícone do Estado cujo epíteto é justamente "terra da luz". Essa história é sempre revivida. .Foi manchete de 1ª página no "O Povo", rende crônicas e ensaios, o dramaturgo Gilmar de Carvalho escreveu uma peça de teatro genial. Pode escrever ai vai virar cinema. O grande Cláudio Pereira, no comando da Funcet, com parcos recursos e muita coragem, tentou repetir o feito algumas vezes. Em todas, o Sol nos passou a perna e não deu as caras, na certa, envergonhado ou com medo.
Mas nada tão inusitado como o que aconteceu comigo. Em 2005, com esse propósito, procurei assessores do gabinete da prefeita. Explanava a idéia quando fui interrompido: "Isso é mentira. O povo cearense não vaiou o Sol. Nunca ouvi falar disso. É impossível... Afinal o que o Sol fez de mal a você? O que você tem contra o Sol? Coitadinho do Sol..." Foi ai que a ficha caiu. Eles pensavam que eu queria vaiar não o Sol, mas o partido político deles! Sinceramente a grandeza do astro não merece isso e tampouco a magnitude do gesto.
Como o povo brasileiro vaia até minuto de silencio como disse o Nelson Rodrigues, quem pagou o pato, naquele ano, foi o presidente Lula em Porto Alegre vaiado pelo sol no Fórum Social Mundial. Que como diz a poesia do Drumond. "...Não tinha nada a ver com a história".
sexta-feira, 30 de janeiro de 2009
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12 comentários:
Com o gostoso jeito moleque do cearense,você queria que ele aplaudisse o sol? Por mais que merecesse,naquela manhã nublada,só a vaia seria o maior barato. E foi.
Parabéns pelo artigo.
Ano que vem, nessa época, vou lembrar de vaiar o sol.
Pena que os assessores da prefeita não entenderam...
Não conheço o Cartaxo Junior, mas conhecí o pai dele o meu querido e saudoso professor Cartaxo que nos ensinava História no Ginásio Agapito dos Santos.Magro, de óculos, sentava-se no birô e fumando um cigarro Continental atrás do outro repassava aos alunos fatos e coisas do Brasil de uma maneira muito peculiar o que tornava a matéria detestada por muitos numa coisa atraente.Ao ler o artigo relembrei muitos fatos que envolveram a celebre vaia ao sol.Meu pai, um saudosista por profissão e *inspetor de quarteirão no tempo da II Guerra, falava que a emissora mais famosa da época a BBC, interrompeu seu noticiário em Portugues com o Aiberê da BBC(locutor) para noticiar com destaque o fato inusitado.
Acredito que Fortaleza merece ter um livro contando as histórias e estórias de seu cotidiano desde a sua fundação.Venho tentando fazer isso e já escreví mais de mil páginas e pesquisei bastante, utilizando internet, entrevistas(já fiz mais de 200) e consultas a livros os mais variados.O livro que já tem titulo"de Mathias Beck a Tasso Jereissati.." deverá ser lançado em março próximo...
*INSPETOR DE QUARTEIRÃO:- homem que controlava os blecautes e fiscalizava as residencias no sentido de que todos obedecessem a sirene que ordenava apagar as luzes afim de evitar que os pilotos alemães vissem a claridade da cidade.
Parabéns ao autor e ao Paulo Lima Verde, que enriqueceu o artigo com suas memórias. Aliás, a família Lima Verde é especialista no assunto(tem também o Narcélio). E viva a molecagem cearense e a inteligência.
João Teles
Uma errata!
No jornal o povo de hoje no Vertical o trecho Sobe o autor comentou sobre o vaiar o sol. Mas cearense não iuhuuuuhhh....
a vaia do cearense é iiiiiiieeeeeiiiii ....
No mais, o arquito está mára ...
Manu
Augusto, os assessores da prefeita normalmente não entendem nada!
Paulo Limaverde,uma lenda viva do rádio cearense,certamente,tem muitas histórias e estórias,a serem contadas em seu livro.Apresse isso,homem,depois,tomaremos uma cereja na Manibura.Com o Narcélio.
Ieeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeiiiiiiiiiiii
Renato N.
Eu amo ser cearense, eu amo este lugar!!!
Agradeço ao Paulo as palavras.Adoro ser LENDA VIVA mas é melhor dizer que continúo sendo TESTEMUNHA!
Valeu,Paulão,grande figura!
Recomendo a leitura do livro:
VAIANDO O SOL , O MELHOR DO HUMOR E DA MOLECAGEM CEARENSE- Tarcísio Matos.
Uma viagem pelo humor, tradição e cultura cearense.
Ahhhh!!! O livro VAIANDO O SOL , O MELHOR DO HUMOR E DA MOLECAGEM CEARENSE ainda traz cartuns do Klévisson!!!
O resultado dessa parceria: é só ler o livro e chorar de tanto rir kkkk
Vai aí uma canjinha do citado livro pg 38:
Quintino Cunha teve pela frente, no Fórum de Fortaleza, um advogado de apregoado saber jurídico, que lá pras tantas perde a paciência:
- Dr. Quintino, estou citando a Lei. Estou montado no Código Civil.
O poeta teve que intervir de bate-pronto, desconcertando o oponente:
-Lamento muito a sorte do meu prezado colega, pois está montado num animal que não conhece.”
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