sábado, 26 de abril de 2008

DEMÓCRITO - RADICALMENTE HUMANO


Foto - Fco Fontenele

"Há momentos na vida em que a realidade não cabe nos parâmetros dos que são obrigados a conviver com ela. E é justamente um desses momentos que chegou agora para O POVO, ao ter de anunciar a morte de seu presidente, o jornalista Demócrito Dummar. Não só a família, os integrantes do jornal e os amigos foram apanhados de surpresa, mas todos aqueles que tiveram o privilégio de, alguma vez, ser tocados - ainda que indiretamente - pelo seu entusiasmo vibrante e sua arguta capacidade de mobilizar energias para as melhores causas do Ceará - e, por que não dizer -, em favor de tudo que recendesse humanidade.

Não era para menos, Demócrito soube encarnar como ninguém a capacidade prospectiva de seu avô, e fundador do O POVO, Demócrito Rocha, e o seu amor pelo jornal - cultivado pelos sucessores deste: Creuza Rocha, Paulo Sarasate e Albanisa Sarasate. Mais do que isso: levou avante o compromisso de realizar um jornalismo crítico, pluralista e sensível à realidade social circundante, tarefa que pode entregar com orgulho aos que ficam. Sua contribuição pessoal a esse legado foi a de incentivar um jornalismo que fosse além da simples observação, divulgação e interpretação dos fatos, mas atuasse igualmente como instrumento de mobilização e articulação das forças criativas da sociedade, contribuindo para que esta tivesse autoconsciência de seu próprio poder transformador.

Demócrito tinha alma de poeta, audácia de visionário e sensibilidade de apaixonado pelo humano. Aliado a isso, uma profunda humildade e capacidade de escuta, que o levava a se colocar sempre na condição de quem acreditava que as pessoas (ainda as mais simples) tinham sempre alguma contribuição a dar. Compreender sua partida é difícil. Mas resta o consolo de saber que não partiu de mãos vazias, pois quem soube espalhar sementes de solidariedade, como ele, ao derredor, jamais será recebido com indiferença pelo Eterno, quando disser: eis-me, aqui. Para nós, resta a abissal saudade, mas também a gratidão por ter convivido com alguém de densidade humana tão transbordante."

(Editorial deste sábado do Jornal O POVO, por Waldemar Menezes - editor-senior)

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