ACQUÁRIO DO CEARÁ É PRIORIDADE?

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Eis artigo do professor e antropólogo Antônio Mourão Cavalcante, que está na edição do jornal O POVO deste sábado. Ele trata do projeto Acquario do Ceará, o oceanário a ser implantado na Praia de Iracema pelo governador Cid Gomes (PSB). O projeto vai custar R$ 200 milhões. Confira:

Que legal, o Ceará terá o maior aquário da América do Sul. Não é mesmo massa? Os peixinhos nadando e a gente vendo e se divertindo... Aliás, nem sei se nós teremos essa chance. O governo diz que é atração para os turistas... O empreendimento é do Governo do Estado. Serão mobilizados recursos do tesouro estadual. Isto é, aquela grana que nós pagamos, chamada imposto, será aplicada nessa cabulosa construção. Nesse ponto eu começo a divergir da cúpula governamental – sobretudo do pessoal do Turismo que defende esse projeto. Será que não temos outras prioridades mais agudas? Será que isso não deveria ser um empreendimento privado?

Lembro-me da fama de Orlando, na Flórida, com todos aqueles parques temáticos, atraindo milhões de turistas... Las Vegas é outra coisa fabulosa.Tudo passa pela iniciativa privada, investimento de grupos econômicos. Nem precisa ir longe. O Beach Park tornou-se um símbolo de Fortaleza. E, pelo que consta, não foi preciso colocar dinheiro público. Por que, no Ceará, é o governo que deve investir? Por que somos nós contribuintes que vamos arcar com os riscos e as despesas subsequentes? Com a perspectiva até de: se for viável, privatiza. Se der preju, é do Governo... Se o objetivo é incentivar o turismo, nada melhor do que apoiar o que já existe. A menos de quinhentos metros do local onde se projeta inusitada obra, foi erguido o Centro de Cultura Dragão do Mar.

Na época, falou-se que seria um equipamento destinado a alavancar a cultura local. Hoje, quase abandonado, sem vida, começando a se degradar. O tradicional Teatro José de Alencar, apesar do titânico esforço de Violeta Arraes procurando recuperá-lo, agora carece de verbas para sobreviver. A manutenção mostra-se precária e a programação sem recursos, portanto, sem atrativos. Poderia continuar a lista. Teríamos muitas outras obras a recuperar e dinamizar. Mas, cadê as placas? A insistência em erguer novas edificações, promover solenidades e mostrar que fez alguma coisa parecem ser a grande motivação. Nesse caso, a grandiloqüência da obra vira uma peça bufa...

ANTONIO MOURÃO CAVALCANTE
Médico e Antropólogo. Professor Universitário