segunda-feira, 22 de setembro de 2008
A POLÊMICA EM TORNO DO DIPLOMA DE JORNALISTA
Eis artigo publicado no O POVO sobre a polêmica em torno do diploma de jornalista. É assinado pelo ex-ombudsman do O POVO, Plínio Bortolotti. Confira:
"Demorou, mas finalmente vejo algo razoável a respeito da pendenga sobre a exigência legal do diploma específico para o exercício da profissão de jornalista.
Segundo o jornal Folha de S. Paulo (17/9), o Ministério da Educação (MEC) trabalha com a possibilidade de estender a graduados, em qualquer área do conhecimento, o direito de se registrar como jornalista, desde que o interessado curse disciplinas essenciais à área. A matéria da Folha de S. Paulo não esclarece se o curso complementar seria de pós-graduação: a meu ver teria de ser.
É uma posição que defendo, pelo menos, desde o ano de 2000, quando publiquei artigo no Observatório da Imprensa sobre o assunto, tendo feito o mesmo em uma das edições jornal da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj).
Essa proposição é combatida tanto pela corporação dos empresários (defendem a desregulamentação total) quanto dos trabalhadores (preferem agir como avestruzes).
Não vejo um único argumento que possa responder de forma coerente a esta pergunta: por que impedir a graduados de outras áreas o exercício da profissão, depois de cumpridas algumas exigências básicas?
Obviamente, uma nova regulamentação não eliminaria os cursos de Jornalismo, cujos concludentes continuariam com o direito de registro garantido.
Na reportagem da Folha o presidente da Fenaj, Sérgio Murillo, afirma ter considerado a proposta do MEC "inoportuna". Mas ele deu declaração um pouco diferente à rádio O POVO/CBN, no programa Debates do POVO (30/6), mediado por mim, na época.
Quando lhe expus aos argumentos acima, Murillo respondeu: "Pessoalmente tenho simpatia por essa idéia. O problema é garantir que haja uma regulamentação e se crie uma instância que permita o controle sobre a profissão. Se gente tiver um Conselho Federal de Jornalismo, ele [o Conselho] pode discutir esse tipo de flexibilização". Murillo observou que a "flexibilização" devia se restringir aos cursos de Ciências Humanas, e ressalvou que, "no momento", a "grande batalha" era defender a regulamentação atual.
Frente a isso, vamos torcer pelo avanço do debate, esperando que não prevaleça o laissez Faire, mas que venha abaixo no Muro de Berlim que hoje cerca a profissão no Brasil.
Plínio Bortolotti - Editor Institucional do O POVO"
VAMOS NÓS - O Sindicato dos Jornalistas do Ceará respondeu indiretamente artigo de Plínio Bortolotti em seu site, mas não fez nenhuma referência ao texto do jornalista.
* Confira aqui
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18 comentários:
Esse debate é importante porque mexe com o quarto poder, que se acha o todo poderoso. Temos que questionar a postura da imprensa e definir regras claras, pois exageros existem. Mas temos que preservar, acima de tudo, o compromisso com a boa informação e com a democracia.
O ex-ombudsman parece ter vestido a camisa da empresa mesmo. Ou não?
Só tem medo de debater o caso do diploma o jornalista acostumado ao corporativismo maluco que predomina em nossa mídia. Quem tem competênica, sabe se estabelecer. Podem arranjar um bando de profissionais que o leitor saberá fazer a triagem. Ou o leitor é burro pra não ver queda de qualidade, erros absurdos e etc? É querer menosprezar a inteligência alheia. Plínio está correto: jonalista tem que continuar estudando nesmo e procurando outros segmentos para melhorar cada vez mais seu cabedal.
Taí. Eu queria ver um debate entre a direção do Sindicato dos Jonralistas, o Plíno Bortolotti e professores das faculdades de comunicação sobre o assunto.Alguém topariua bancar isso?
Se for ASSIM COM O JORNALISMO QUE SEJA COM AS OUTRAS PROFISSÕES. Assim eu curso apenas algumas disciplinas de outro curso e começo a ganhar mais dinheiro por aí. Que tal a medicina?
Neste momento, a turma debate-se pela exigência do diploma para exercer o jornalismo. Não acha, porém, bons argumentos para defender esse projeto. Por que fortalecer o corporativismo de sindicatos, e Fenaj, e ANJ? Condenáveis os lobbies. Nem se trata de exigir um diploma para jornalistas já que engenheiros e veterinários precisam de um para montar banca. Juristas anotam a inconstitucionalidade do projeto. Defensores do tal projeto deviam pari passu clamar pelo fim do caráter elitista e dos oligopólios da imprensa. Gente séria isto desejará muito mais que um certificado de conclusão de curso adrede.
Eu tendo a ser defensor da desregulamentaçao nao só para a carreira de jornalista (se digo que tendo, é porque ainda nao sou capaz de falar sobre esse tema com convicçao consolidada. Mas tenho opiniao sobre ele e eu a expresso aqui). Só deveria merecer regulamentaçao da profissao aquelas carreiras que tenham impacto direto sobre a vida das pessoas e de todas as espécimes, como a medicina, a psicologia, a odontologia, a veterinária e outras carreiras afins. Jornalismo, sociologia, economia, ciencia politica, direito, antropologia e afins deveriam ser todas desregulamentadas. Dorian Sampaio era formado em odontologia, mas, na verdade, exercia a profissao de jornalista. E que jornalista era o Dorian! Um dos melhores analistas políticos da nossa terra, o Valton de Miranda Leitao, é médico psiquiatra. Há inúmeros profissionais de outras carreiras que sao grandes sociólogos quando analisam nossa realidade. Por que impedí-los de exercer a sociologia? O que é prejudicial à sociedade sao o corporativismo, o cartorialismo, males causados pela regulamentaçao da profissao. Achar que é necessário um curriculum mínimo para o exercício da profissao é nao ver nisso um instrumento engessante que vai de encontro ao dinamismo do conhecimento. Pedro Albuquerque, advogado e sociólogo.
Sou a favor de que jornalistas sejam obrigados a ler Machado de Assis, Camilo Castelo Branco, Lima Barreto, Guimarães Rosa e Cecília Meireles. Aí o negócio melhorava.
O princípio basilar que orientaria o exercício das profissoes deveria ser este: o desregulamento das profissoes deve ser a regra, a regulamentaçao a exceçao. A liberalidade no exercício das profissoes como regra, a interferência reguladora do Estado como exceçao. Pedro Albuquerque.
Sou a favor de diploma para jornalista,pois se assim não fosse me consideraria traidora da classe. Mas, também, sou contra a proliferação de "bodegas" que dizem formar profissionais de comunicação e despejam no mercado "analfabetos funcionais" que não sabem produzir uma matéria, que não sabem entrevistar, que não conhecem a história recente de sua cidade e seu Estado . E que não distinguem o "mais" do "mas" o "mal" do "mau" e o "alto" do "auto"...
Inês Aparecida
jornalista )com diploma da UFC)
Sou a favor de diploma para jornalista,pois se assim não fosse me consideraria traidora da classe. Mas, também, sou contra a proliferação de "bodegas" que dizem formar profissionais de comunicação e despejam no mercado "analfabetos funcionais" que não sabem produzir uma matéria, que não sabem entrevistar, que não conhecem a história recente de sua cidade e seu Estado . E que não distinguem o "mais" do "mas" o "mal" do "mau" e o "alto" do "auto"...
Inês Aparecida
jornalista )com diploma da UFC)
"Há algum tempo, um caso inacreditável ocupou a discussão da Comissão de Educação e Cultura da Câmara dos Deputados. O projeto de lei visando a regulamentação da profissão de Educação Física incluía dentre os direitos da classe dos diplomados nessa área, a prerrogativa do exclusivo de ensino de dança e de lutas, com a conseqüência absurda de que as professoras de dança que não tivessem diploma de educação física seriam proibidas de dar aulas. As academias de ballet seriam fechadas. Foi penoso assistir o vexame a que tiveram de se submeter bailarinas brasileiras na Câmara dos Deputados, obrigadas a convencer os parlamentares de que a proposta beirava a loucura. Mesmo escolas de samba, capoeira e outras manifestações artísticas tradicionais cairiam na ilegalidade, se não contratassem um diplomado em educação física para geri-las!" in ZARUR, G. O Fim do Diploma Para o Exercício das Profissoes - http://www.georgezarur.com.br/pagina.php/159
"A excessiva regulamentação profissional prejudica, também, seriamente, a educação superior e a eficiência econômica do País. A tradição bacharelesca brasileira tem sido considerada, desde a fundação da nação, um dos seus mais graves problemas. Um de seus traços característicos é a substituição do conteúdo pela forma, do conhecimento pelo diploma, mesmo que este nada signifique ou aquele inexista. O diploma transformou-se em uma espécie de autorização, uma “carteira de motorista” para se trafegar no mercado de trabalho. Instituições de ensino superior tornaram-se cartórios que vendem à prestação a licença para trabalhar.
A ênfase no diploma como produto da universidade, e não no conhecimento que o diploma deveria atestar, representa uma distorção que engessa a vida econômica da nação, promove a desigualdade social e desmoraliza o sistema educacional.
Do ponto de vista educacional, a exigência de diplomas para o exercício profissional representa um sério óbice à conquista de um ensino de qualidade. De fato, a emissão de diplomas transforma-se no objetivo fundamental das instituições educacionais. A produção e a transmissão do conhecimento passam a ser o aspecto secundário, quando o contrário deveria ocorrer: o diploma deveria apenas certificar que o profissional possui, presumivelmente, um determinado nível de conhecimento e não substituir, automaticamente, o conhecimento e a capacidade profissionais. Um indicador das lamentáveis condições vividas pelo ensino superior brasileiro é, exatamente, a quantidade de leis exigindo diplomas." in ZARUR, G. O Fim do Diploma Para o Exercício das Profissoes.
Sinceramente, se espera mais de alguém que é definido como professor universitário. A tal Aparecida aprecer para declar de pronto que é a fravor do diploma para jornalismo porque seria "traidora da classe!. Que diabo de argumento, de fundamentação e éssa! É isso que se espera eticamente de um profissional, argumentação centrada em pretensões aprióricas da categoria. Isso significa que a sociedade deve ficar refém dos interesses particularistas dos jornalistas, que gostariam de manter um nicho de emprego a despeito da competência e do compromisso de bem informar? Se uma professora universitária lança mão de argumentos tão chinfrins, desqualificados, rebaixados, meramente corporativos, o que esperar de outros? Acho que a referida manifestação é a prova concreta, irretorquível da correção do raciocínio do Plínio e do Pedro Albuquerque! Essses sim, buscam fundamentar suas postulações, estimular o necessário debate, para além da mediocridade e do auto-interesse!
gostaria de reiterar a posiçâo dos que se opôem a defesa da necessidade de diploma para o exercìcio da profissâo de jornalista. A posição de Pedro Albuquerque, especialmente, pareceu-me bem fundamentada, fundada em argumentos éticos e no compromisso maior com a sociedade. É lamentável observarmos que jornalistas e , inclusive, professores, argumentem de forma tão estreita e rasteira.
Defendo o diploma e, mais ainda, a criação de um Conselho (como OAB) para fiscalizar o preparo do Jornalista, caçar os que atuam ilegalmente e punir os que transgridem a ética. Devemos lutar pela excelência dos cursos de jornalismo, pelo aperfeiçoamento intelectual (se possível com cursos de Especialização na área onde o repórter vai atuar, como política, economia, medicina etc.) e ético do jornalista, e não pela desregulamentação da profissão.
Os que defendem a possibilidade de qualquer graduado (direito, medicina, economia, letras etc.) fazer uma Especialização em Técnicas de Jornalismo, de um ano e meio, e a partir de então possam ir para as redações e assinar grandes reportagens sobre temas diversos, devem também defender o seguinte:
Que o bacharel em Comunicação, após fazer uma especialização digamos em Direito Civil, possa advogar; Que um repórter, após se especializar em Psicologia da Educação, possa exercer a profissão de psicólogo; Que o profissional formado em jornalismo, após fazer uma especializaçãozinha em Arquitetura, possa participar de concorrência de grandes projetos arquitetônicos de prédios públicos; Que um jornalista, após fazer uma especialização em microcirugia, possa sair por aí operando pacientes.
E mais ainda, essas pessoas devem também defender que o jornalista com especialização ou mestrado em qualquer outra área possa também ser inscritos na OAB, Conselho de Medicina, Corecon, Conselho de Farmácia, Crea etc.
Ass. Anchieta Silveira, Jornalista (UFC) e Mestre em Administração (Uece), com MBA na área gerencial e professor de cursos de Graduação e Pós nesse setor, mas que não pode pertencer ao Conselho Regional de Administração por não ter bacharelado nessa área. O Conselho está certo. Errado é quem defende que qualquer um pode ser jornalista!
É em razão desse corporativismo nefasto, vinculado a realções cumpadrio que vemos uma imprensa brasileira de maneira geral tão desqualificada, pouco analítica. Boa parte dos jornalistas tem uma formação superficial, rala, resumindo-se a fazer comentários superficiais, prosaicos sobre os fatos do cotidiano.
O Anchieta que aqui se pronunciou demonstrou uma capcidade singular de confundir alhois com bugalhos, comparando situações que de forma alguma podem ser comparados. É a prova viva como os interesses, notadamente os corporativos podem obscurecer a inteligibilidade, funcionamento como obstáculos epistemológicos. Afinal como alguém em sã consciência pode comparar os riscos e a formação técnica requerida vinculada a situações onde a vida humana está em risco, com o domínio de técnicas de redação jornalística?.Até prova em cont´rario nunca soube de ninguém que tenha morrido em razão de notícia veiculada em termos estilisticos incorretos.
Deve-se alertar ainda, que um exame nas redações dos melhores jornais do mundo, do Brasil e do Ceará éo suficiente para demonstrar que os melhores jornalistas não são formados em jornalismo.Podíamos citar vários exemplo como Perseu Abramo, Claúdio Abramo, Elio Gaspari e tantos outros.
Quando vejo o nível rebaixado dos argumentos brandidos pelos defensores da exigência do diploma para odesempenho do jornalismo, fica cada vez mais convicto da inoportunidade de sua cobrança. Neste sentido, a defesa feita por jornalistas mais estreitos e corporativos tem ajudado e muito na fundamentação da posição dos que se opõe a exigência do diploma. O reducionismo desesperado de uma professora da UFC de nome Aparecida é um ótimo exemplo disso!
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